quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Os encantos de Alice - o que esperar da nova série brasileira


Quando as luzes se acenderam na sala de projeção na tarde da última sexta-feira (12/9), no cinema Reserva Cultural, em plena avenida Paulista, em São Paulo, jornalistas, produtores e atores aplaudiram com intensidade. Não estavam fazendo média. Haviam acabado de assistir aos dois primeiros episódios de Alice, a nova série produzida no Brasil pela Gullane Filmes e pela HBO, e todos estavam surpresos com a qualidade do produto exibido na tela.

Sérgio Machado, diretor geral e roteirista da série foi o primeiro a falar em nome do elenco. Emocionado (era a primeira vez que os diretores assistiam ao seriado fora da sala de edição), acabou criando a sua própria versão do slogan do canal:

Eu estou impactado. Não é televisão, é cinema. O acabamento é igual ao dos longas que fizemos. Gravada em 16mm e finalizada em HD, Alice atingiu, ao menos tecnicamente, o nível de excelência que ainda faltava aos seriados brasileiros. Esqueçam a baixa qualidade técnica de 9mm:São Paulo e Brazil´s Next Top Model, os seriados da Globo gravados como se fossem telenovelas ou teleteatro, ou mesmo comparações com as primeiras apostas da HBO no país, Mandrake e Filhos do Carnaval, que dividiram opiniões. Tecnicamente, os 13 episódios da primeira temporada Alice prometem levar a produção de TV no Brasi a um novo patamar de excelência.

O motivo da qualidade? A dedicação da equipe formada pelo diretor geral Karim Aïnouz e os demais diretores. Machado explica:

Quando terminei de gravar a série fui direto para o hospital. Foi como se eu tivesse gravados sete longas. A gente não abriu mão de nada, pra manter o acabamento e o visual da série como o de nossos filmes. A diferença para o cinema é que tínhamos que gravar e escrever mais rápido.



A Série - Alice é um drama sobre uma garota que, em razão do suicídio do pai, sai de Palmas, no Tocantins, para São Paulo. Uma série de incidentes ao longo não só do piloto, mas da temporada, a levará a permanecer na metrópole, inclusive colocando em risco seu noivado. Como a personagem da história infantil Lewis Carroll, ela acaba se deixando seduzir pela cidade grande, se perdendo e se transformando.

Para os fãs de seriados americanos, a sinopse pode parecer estranha, trivial, tola. De fato a série foge do padrão americano, correndo riscos, inclusive o de ser original e de ser genuinamente brasileira. O que tem de genuíno na série? Segundo Machado:

É uma série de personagens. E estes personagens tem sangue correndo em suas veias.
O elenco - De fato, além da qualidade técnica, a série se destaca pela qualidade do elenco, e de como este elenco vai desenvolvendo seus papéis ao longo das semanas. E não são poucos atores. Alice não é uma série de apenas uma personagem, como o nome pode sugerir. Desde o primeiro episódio e ao longo da temporada o telespectador será apresentado a diversos personagens, em São Paulo e em Palmas, que deverão crescer de importância com a evolução da história. Um dos nomes mais conhecidos do elenco, o ator Du Moscovis, sequer aparece nos primeiros episódios.

Mas, claro, a maioria dos holofotes recai para Andréia Horta, incrivelmente sedutora no papel de Alice. A atriz, com passagens pela minissérie JK, pela novela Alta Estação e atualmente em Chamas da Vida, da Record, pouco falou na entrevista. E a resposta que melhor explica como ela desenvolveu uma personagem tão diferente de si mesma, acabou arrancando gargalhadas dos jornalista: Me tornei mulher na mão desses caras!

Os cenários - Há ainda um personagem extra no seriado, que não participou da coletiva. Segundo Machado:

A série nasceu do desejo de fazer uma série sobre São Paulo, onde São Paulo fosse um personagem. Os primeiros episódios confirmam a intenção. São Paulo aparece na série como poucas vezes foi retratada na TV e no cinema – de tomadas mais óbvias, como a cena do piloto em que Alice grita da janela de um carro em plena avenida Paulista, passando por outros pontos da cidade mais obscuros, totalizando mais de 100 outras locações, segundo afirmou o produtor Fabiano Gullane. No segundo episódio, a declaração de amor a São Paulo é explícita – a produção coloca na tela imagens de São Paulo S.A., filme clássico de Luís Sérgio Person.

A atriz Regina Braga, nascida em Belo Horizonte e moradora em São Paulo, destaca uma destas locações:

Eu sempre achei lindo embaixo do Minhocão. E eles foram lá e filmaram embaixo do Minhocão. Minhocão, para que não conhece São Paulo, é o nome popular do elevado Presidente Costa e Silva, obra construída pelo prefeito Paulo Maluf para desafogar o trânsito na região central da cidade, ao custo de muita desvalorização imobiliária na região e de um resultado estético desagradável – menos para Regina!

Números - Como já virou regra entre produtores de televisão, o pessoal da HBO não revelou quanto foi gasto na série, produzida com recursos públicos. Mas todos os demais números de Alice chamam a atenção – são dois anos de desenvolvimento do projeto, 600 páginas de roteiro escritas em um ano, sete meses de gravações, com o elenco trabalhando 12 horas de trabalho por dia em semanas de seis dias de trabalho e as já citadas mais de cem locações.

O trabalho duro, e que agradou a imprensa, faz pensar se não seria o caso de buscar um parceiro para exibir para um público ainda maior no Brasil. Mas o executivo da HBO e produtor executivo Luiz Peraza rechaçou a idéia, dizendo a HBO produz séries para exibição apenas em seu canal. O caminho de Alice é exibição em toda a América Latina pela HBO, a venda para o exterior e, no futuro, o lançamento em DVD. E, claro, continuações, caso o seriado caia no gosto do público. Segundo Peraza:

Temos a expectativa de que Alice tenha várias temporadas.


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Alice estréia neste domingo, dia 21 de setembro, às 22h na HBO.

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