Quando estreou, ainda como piloto, “Casos e acasos” foi tema de um comentário elogioso aqui nesse espaço. O formato original trançava três histórias, numa montagem ao mesmo tempo intrincada o bastante para ser inteligente e leve o suficiente para não parecer pretensiosa. No cenário, havia sempre referências ao trabalho do artista holandês Escher e era uma graça extra. Agora, quase um ano depois, sobrou pouco do bom projeto que teve todos os ingredientes para emplacar na grade da Globo.
Na última quinta-feira, as três histórias apresentadas pelo programa sequer mereceriam ser chamadas de “histórias”. Eram esquetes esticados, o que deixou ainda mais evidente a falta de fôlego dos enredos. No primeiro, “Ela é ele”, a personagem de Samara Felippo vivia uma homossexual que buscava alguém para ser o pai de seu filho. Murilo Rosa (em boa atuação) era esse alguém. No segundo, “Ela ou eu”, Gianne Albertoni e Sílvia Pfeifer viveram duas modelos de uma mesma campanha publicitária. Rivais, elas trocavam impropérios e a trama era mais ou menos essa. No último, “Ele é ela”, o casal interpretado por Mônica Martelli e Dalton Vigh esperava uma empregada doméstica e aparecia um homem. O fato acabava provocando os ciúmes do marido, embora o rapaz fosse eficiente. Os pronomes nos títulos fizeram as vezes de “ligação” entre as histórias. Alguns personagens se conheciam, mas de uma maneira tão vaga que não fazia a menor diferença. Não havia interseção alguma entre as histórias.
Os cenários eram tão impessoais quanto todo o resto. Faltou ainda unidade estética ou musical, como um programa desses mereceria ter. O investimento nos roteiros era pobre e provavelmente o mais comprometedor de tudo. Uma pena, porque boas atuações, sozinhas, não salvam “Casos e acasos”. Que, aliás, nos últimos tempos não é mais nem “casos”, muito menos “acasos”.
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