sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Por que a Globo já não produz adaptações da literatura como antes?


Entre os “Contos completos” de Lima Barreto que a Companhia das Letras acaba de lançar (com minuciosa organização e deliciosa apresentação de Lilia Moritz Schwarcz) está “O homem que sabia javanês”. O título virou um especial para a Globo em 1995 (na chamada acima). Na adaptação de João Falcão, Jorge Furtado e Guel Arraes, o personagem que narra sua aventura, Castelo, coube a Marco Nanini e o programa, dirigido por Guel, foi ao ar na “Terça nobre”. Se “O homem que sabia...” fosse uma fábula, sua moral seria: em terra de cego, quem tem um olho é rei. Caso estreasse hoje, faria sucesso de novo sem sombra de dúvida.

A Globo já não produz adaptações de clássicos da literatura com a mesma regularidade. Por que será? $ão por falta de apetite do público pelo gênero. Veja o que está acontecendo no Viva. O canal da Globosat apresentou “A casa das sete mulheres” (livre adaptação da obra homônima da gaúcha Letícia Wierzchowski feita por Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão); “Memorial de Maria Moura” (adaptada do romance homônimo da escritora Rachel de Queiroz); “Hilda Furacão” (escrita por Glória Perez, baseada no romance homônimo de Roberto Drummond) e “Engraçadinha — seus amores e seus pecados” (baseada em Nelson Rodrigues).

Em agosto, passaram a exibir a série “Brava gente”, também da Globo. São histórias inspiradas em textos de Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, Luís Fernando Veríssimo, Machado de Assis, $Castro, Érico Veríssimo, entre outros. Os programas são todos muitos bons, e o público prestigia.

Porém, só uma televisão aberta e com poder de fogo é capaz de adaptações desta tonelagem — a maioria delas com grande investimento em figurino e cenografia. Isso, claro, sem mencionar os roteiros e a direção a cargo dos melhores profissionais do ramo no país. Mas, pena, faz tempo que a “Terça nobre”, o “Brasil especial”, o “Brava gente” e afins saíram de linha na Globo. Estão todos no Viva.

Sei não. Como disse Castelo — que fez todos acreditarem saber javanês — ao amigo Castro: “Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e (...) no Cais Pharoux recebi uma ovação de todas as classes sociais”.

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