quarta-feira, 15 de julho de 2009

E Lá se Vão 30 Anos das Séries da Globo


Muita gente reclama que na tv aberta as séries passam muito tarde ou somente de madrugada, mas há boas razões para isso. Nos anos 1970 o horário nobre era dominado pelos enlatados, como eram denominadas, de modo pejorativo, as séries americanas. Duvidava-se muito da qualidade das produções exibidas, ainda que fossem grandes sucessos, e, por tabela, não se vi nada de nacional por ali.

O que aconteceu? Depois de tanta reclamação criou-se um projeto ousado de teledramaturgia na Rede Globo com a criação de suas primeiras séries com um formato que se aproximava de fato das importadas, naquele modelo de misto de continuidade de histórias com uma trama solo que iniciava e acabava em cada um dos episódios. Claro, antes, por exemplo, houve Ciranda Cirandinha, mas era quase uma minissérie do que uma série padrão.

Foi assim que em meados de maio de 1979 surgiram esses clássicos da televisão brasileira:

Na terça-feira, dia, 22 de maio, iniciou-se Carga Pesada, com Antônio Fagundes e Stênio Garcia, respectivamente como Pedro e Bino. É uma série até que conhecida por todos porque há pouco mais de três anos a sua continuação ainda estava no ar. Do grupo de séries estreantes essa com certeza era a mais brasileirinha por opção, por representar o Brasil em todos os seus cantos, embora a equipe de produção nunca tenha saído muito longe para gravar as cenas.

Na quinta-feira, dia 24 de maio, foi a vez de Malu Mulher, com Regina Duarte, no papel de uma socióloga que marcava a emancipação da mulher em si e da mulher na machista sociedade brasileira. Das séries essa era a de temática mais séria e densa, realista por assim dizer. E era constante a briga com a censura militar da época. Por ironia, Malu Mulher sofreu nas mãos de algo bem machista, os jogos dos amistosos da seleção brasileira, que sempre eram no mesmo dia de exibição.

Na sexta-feira, dia 26 de maio, o ciclo se fechava com Plantão de Polícia, com Hugo Carvana, vivendo o repórter Waldomiro Pena que cobria os acontecimentos da criminalidade carioca. Mesmo não sendo efetivamente uma série policial ela ainda é superior a muitas obras que foram feitas daquele tempo para cá, no que tange a violência e o crime urbano.

È fácil notar que não foram três séries casuais que foram lançadas nesse pacote. Elas retratam um Brasil interiorano, o urbano e o universo das idéias pessoais dos brasileiros, sobretudo as brasileiras. Com o passar das temporadas algumas mudanças ocorreram aqui e ali, mas a estrutura geral não mudou muito. Pena que em três anos todas já tinham sido encerradas. Elas só não conseguiram emular a longevidade das séries americanas que emplacam e às vezes perduram por quase uma década, com exceção de Carga Pesada, que retornou vinte anos depois, numa continuação.

Depois dessa experiência inicial, ficou provado que era possível produzir boas séries e não havia mais necessidade de se sustentar a audiência com os produtos vindo de fora e sem nenhuma identidade nacional. Claro que, para nós que gostamos de séries, a faixa das novelas poderia ter sido extinta e ser forrada de variadas séries. Infelizmente, isso é quase impossível de acontecer um dia.

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