quarta-feira, 15 de julho de 2009

Som & Fúria – Episódio 5


Já havia dito o sábio Naum no segundo episódio que “Hamlet vai continuar a ser esta tragédia inefável do espírito humano que ressoa entre nós até hoje”. E ao ver essa nova versão do clássico de Shakespeare criar seus contornos, Dante tem que deixar seu passado de lado para que possa prosseguir com o sonho de estrear a peça. É com essa simples sinopse que Som & Fúria nos apresenta o melhor dos 5 episódios já exibidos.

Foi um episódio simples e ao mesmo tempo grandioso. O roteiro certo, nas mãos dos atores certos, guiados por uma excelente equipe de produção brilhante. Nos situou na história e delineou o caminho que a série percorrerá. Talvez nem todos vão gostar do episódio, não foi um episódio com uma cena mirabolante, nem uma grande sacada do roteiro para nos fazer rir, nem um apelo muito forte para o sarcasmo. O humor da série estava ali, mas apenas como pano de fundo do desenvolvimento dos personagens principais.

Ao mesmo tempo em que a série usou desse recurso de basear-se na comédia para contar sua história (muito séria, por sinal), sua história usou Shakespeare como pano de fundo para nos mostrar duas histórias de amor, duas gerações diferentes, que precisaram achar um ponto em comum para que as resoluções surgissem e pudessem seguir em frente. E o ponto em comum entre essas duas histórias chama-se Hamlet.

Há 7 anos, no auge de suas carreiras como atores, Dante e Ellen faziam a citada peça de Shakespeare e estavam bem em suas vidas amorosas, mas esse equilíbrio entre a carreira e o amor não durou muito. Ao mesmo tempo em que sua interpretação era elogiadíssima, Dante tinha que lidar com “a traição” de Ellen. Sem o apoio da amada, Dante acabou cedendo a pressão e surtou, abrindo mão de sua carreira.

Nos dias atuais, Jacques e Kátia vivem um bom momento em seu relacionamento. Mas as coisas mudam quando o galã desacreditado e a substituta vêm a oportunidade de suas vidas logo em frente. Kátia consegue o papel de Ofélia e Jacques, sob pressão, encontra o ponto certo do seu Hamlet, mostrando que é capaz de ser fantástico quando mostra o seu talento. As pressões que Jacques tem ao lidar com a sua própria identidade (a mudança de um galã de novela para um ator digno de dar vida a Hamlet) o fazem ceder. Diferentemente do primeiro casal, o apoio que ele tem de Kátia é fundamental para ele encarar o seu destino e mostrar o seu talento.

O paralelo entre esses casais é o que movimenta a série, pois é o que vai definir se o espetáculo será um sucesso ou não. Na atual harmonia entre ambos os casais (vista no final do episódio) a peça só tem a crescer, se não esquecermos que Ricardo e Graça não querem esse crescimento, pois não querem o sucesso da série.

Aliás, os dois vilões caricatos estiveram no ponto exato nesse episódio. De um lado temos o “bobo” Ricardo antecipando a estréia da peça e atrapalhando os ensaios, e de outro temos a sempre hilária Graça pondo em prática seu mirabolante plano para tirar Milu da jogada (que por sinal, me fez rir muito).

Embora todo o elenco principal (e o de apoio) tenha brilhado nesse episódio, meus elogios hoje direcionam-se ao Daniel de Oliveira. Ao mostrar que o Jacques pode ser mais que.. o Jacques, ele explorou ao máximo o seu talento, já reconhecido desde o filme do Cazuza. Eu já tinha achado a sua interpretação na cena do ensaio no porão sensacional, mas quando eu vi o monólogo principal de Hamlet eu me arrepiei. Cena perfeitamente construída. Somente Daniel de Oliveira e a trilha sonora. Uma cena memorável.

Por falar em elenco, eis que Paulo Betti surge em cena… E era melhor que não tivesse surgido. Convenhamos que ele foi um figurante de luxo, sem nenhuma participação no episódio. Até o (péssimo) namorado da Ellen teve mais destaque no episódio que ele. Não sou fã do Paulo Betti, mas acho que se o personagem dele não for mostrar mais que isso, vai ser a pior humilhação de sua carreira. Interpretando o Rei Cláudio, acredito que ele tenha mais destaque.

Os já elogiados Felipe Camargo e Andrea Beltrão continuaram ótimos. E seus personagens, Dante e Ellen, roubaram a cena no episódio. O puxão de orelha que ele dá em Ellen logo no começo do episódio foi sensacional, a conversa dos dois no telhado na cena final foi sutil e incrivelmente bem interpretada. Até nos flashbacks eles arrasaram (inclusive, ri muito da Ellen tentando se matar comendo manga com leite).

Sabemos agora o caminho que a série irá tomar. Jacques e Kátia são um espelho de Dante e Ellen, e como pano de fundo temos Hamlet, responsável pelo fim de um casal e a união do outro. O sucesso aguarda a ambos os casais, mas para isso será necessário enfrentar Ricardo e Graça, que crescem cada vez mais.

Sendo a obra de Shakespeare sobre a profundidade da alma humana, nada é mais profundo nela que o amor, que pode surgir ou acabar em um encenação de Hamlet.

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