quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Não há santos, nem vilões em Passione. E nem público.


Após o primeiro mês mais interessante que uma telenovela de horário nobre já mostrou ao telespectador, Passione chega neste semana ao seu centésimo capítulo – praticamente a metade de seus 221 previstos – com uma Campanha de relançamento da trama que, a partir de agora, deixa o tom colorido, ameno e apaixonado e passa a ser de thriller.

Mais do que simplesmente relançar o folhetim para situar o telespectador, a intenção da Rede Globo é agregar público, uma vez que, até o momento, a trama de Sílvio de Abreu não atraiu a audiência esperada. Com apenas 33 pontos de média parcial – a pior da história entre as novelas das 8 – a novela tem sido, queira ou não, um retumbante fracasso em termos numéricos.

Explicar estes números não é tarefa fácil. Partindo do pressuposto que o telespectador se interesse em maior ou menor intensidade por uma história atraente, a audiência de Passione é inexplicável, já que sua história é muito superior a de suas antecessoras Caminho das Índias e Viver a Vida. Há ganchos importantes, histórias envolventes, núcleos interligados e as histórias avançam com a agilidade necessária para não deixar monotonia na tela.

Em contrapartida, não é uma novela perfeita. Nem de longe. Sílvio de Abreu, maior dramaturgo vivo na opinião deste blog, responsável por folhetins sensacionais como Belíssima, Guerra dos Sexos e A Próxima Vítima, não acertou inteiramente a mão em seu trabalho atual. É bem verdade que, muitos dos erros da novela não são de responsabilidade do autor, mas ele também tem sua parcela de contribuição.

Uma novela no atual momento da TV brasileira sem vilanices não tem como funcionar. E é isso que Passione é, uma trama sem vilanices. Há vilões? Há. Mas Fred (Reynaldo Gianecchinni) e Clara (Mariana Ximenes) há muito deixaram de cometer atos de vilões e passaram a viver de ameaças, empurrões, olhares, planos. Prática? Que nada, eles latem, latem, mas nunca mordem.

A maior prova do equívoco nas histórias dos vilões se dá no momento atual da trama em que Clara foge da polícia tentando se safar e Fred foi enganado feito um paspalho por Totó (Tony Ramos). Que raios de vilões são esses que são enganados por todos o tempo todo? Isso não tinha como funcionar mesmo.

Passione também conta com a falta de um romance que atraia o público. Diana (Carolina Dieckman) e Mauro (Rodrigo Lombardi) até que tentam isso, mas não conseguem empolgar ninguém. A total falta de química do casal na história faz com que boa parcela dos telespectadores torça para o fim do relacionamento que tem tudo para não funcionar.

Entre cenas geniais, histórias interessantes, ganchos inteligentes e uma pitada perfeita de humor, que torna a trama muito boa, Passione segue com estes defeitos que afasta o público mediano. E também afasta o público mais tradicional, afinal, ninguém na história tem senso de escrúpulos. É como se estivéssemos assistindo a uma história em que os personagens não receberam educação e não tem noção de moral e ética. Ali todos agem conforme a música manda. São falsos, mentirosos, armam para a família, enganam, roubam e fazem qualquer coisa para se darem bem. Todos, de Saulo, Fred e Clara, a Bete, Toto, Mauro e Diana. Não há santos em Passione e, por isso talvez, não há público para Passione.

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