quarta-feira, 8 de setembro de 2010

REVIEW: A Cura - 1X03


Escrever sobre A Cura não é tarefa fácil. Desde o episódio piloto se soube que a série escrita pelo ótimo João Emanuel Carneiro para a Rede Globo seria extremamente complexa e não tão simples de se compreender como a maioria dos produtos da teledramaturgia brasileira.

A proposta de João Emanuel foi apresentar ao público um novo modelo de dramaturgia nacional. Portanto, ao assistir cada um dos episódios é preciso que o telespectador tenha em mente que não está vendo um produto meramente brasileiro e, a premissa fundamental para acompanhar a série é despir-se de qualquer pré-julgamento em comparação aos outros produtos televisivos disponíveis no mercado nacional.

Conseguindo isso, é possível sentar-se e deleitar-se diante de um produto iluminado. A TV brasileira passa por um momento histórico e não necessariamente em repercussão e menos ainda em audiência - principalmente em virtude do horário de veiculação, já que começa as 23h30 por causa do Horário Eleitoral Gratuito - mas no formato e na qualidade.

O 3º episódio exibido na última terça-feira retratou a diferença fundamental de A Cura para todas as outras produções nacionais. Como público estamos acostumados a produtos mais rasos - não necessariamente ruins - e com histórias bem desenvolvidas e nada complicadas de se entender. Por mais que o modelo pareça complicado para as personagens, para o público é sempre fácil acompanhar. Não é o que se vê na excepcional série de JEC.

Após um episódio piloto de apresentação, e um 2º episódio em que o público conheceu a fundo a história de Dimas (Selton Melo) e começou a ficar dividido com os mais diversos sentimentos conflituosos do personagem, A Cura nos brindou com um novo episódio e completamente diferente dos demais. Na prática, não houve nada de importante nas cenas vistas durante todo o episódio, porém, ao analisar mais profundamente, este foi o mais importante e com mais revelações até o momento.

A complexidade dos sentimentos de Dimas foram vistos nas cenas em que ele se leva pela opinião de terceiros e não se aceita como é. Em contrapartida, vemos também o desenvolvimento da história paralela, que acontece no ano de 1728 e que, até então tinha como única ligação com a história principal, o fato de também girar na cidade de Diamantina-MG. Agora já há um laço mais profundo, afinal, fomos apresentados no fim do episódio a Ezequiel, um adolescente que realizava já naquele ano curas milagrosas com o mesmo equipamento médico - principalmente o bisturi - que o tal curandeiro Oto (Juca de Oliveira) usou e que Dimas também vem utilizando. Uma ligação e forte.

Além do que, as cenas mostradas nesta realidade foram bem fortes, com Carmo Dalla Vecchia caracterizado profundamente como um homem doente, tomado de uma maldição lançada por um índio e que sofre por conta disso. Palmas aos maquiadores da Globo por conseguirem tamanha perfeição.

Mas o 3º episódio de A Cura teve como foco principal esteve o tempo todo em Rosângela (Andréia Horta) que decidiu a todo custo provar que Dimas cursou Edelweis (Inês Peixoto) através da cirurgia espiritual. Vemos cenas muito bem escritas e ricas em intrepretação. Quem assiste a série e vê a personagem Rosângela conversando tem certeza que a própria atriz fala daquela forma, como um típica mineira. O retorno de Andréia Horta para a Globo tem sido triunfal.

Após o episódio de terça-feira, um telespectador desatento, desapegado e desinteressado pode ter suspirado e pensado: "O pior episódio entre os três", mas foi o oposto. Este foi o episódio em que tudo começa a fazer sentido e ganhar novas dimensões em A Cura.

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