sexta-feira, 25 de março de 2011

Adriana Esteves interpreta a paleontóloga Júlia na trama das 19h que estreia nesta segunda-feira


Desfiar o vocabulário técnico dos paleontólogos virou algo natural para Adriana Esteves, assim como apreciar uma bela escavação e falar de dinossauros a cada duas frases. Reflexo da extensa preparação para entrar em cena como a cientista Júlia de "Morde & assopra", que estreia amanhã na TV Globo, às 19h. A novela de Walcyr Carrasco, com direção-geral de Rogério Gomes, tem uma história criativa que flerta com uma ficção delirante, mas retratará o universo da paleontologia com fidelidade técnica. E, para que fique tudo irrepreensível, a atriz teve a assessoria de especialistas (um grupo do Museu Nacional acompanha, inclusive, as gravações), assistiu a filmes e visitou sítios arqueológicos no interior de São Paulo.

Os efeitos deste laboratório frenético que vem durando meses ficam potencializados com o apetite de Adriana - uma obsessiva confessa - em embarcar completamente no ambiente de sua personagem.

- Agora, acho que "sou" paleontóloga - anima-se, enquanto fala: - Aprendi tudo o que pude sobre o assunto. Já aconteceu de a gente estar gravando e eu dizer: "Esse jeito de escavar está errado!". Aí chamaram um especialista e estava errado mesmo. Quando a novela acabar, a paleontologia também acabará para mim. E chega um novo papel, com outros desafios... Esta é a delícia do trabalho do ator.

Adriana estava há tempos longe das novelas - a última que fez foi "A lua me disse", em 2005. Quando a produção já estava perto do fim, engravidou de Vicente (ela tem ainda Felipe, de 11 anos, de sua união com Marco Ricca, e Agnes, de 13, de um casamento anterior de Vladimir Brichta e que considera sua filha) e precisou se afastar do vídeo. Em 2007, voltou num papel totalmente diferente de tudo o que já tinha feito na TV: a cômica Celinha de "Toma lá dá cá". Em 2009, quando o humorístico estava prestes a sair do ar mas ainda continuava em produção, veio o convite de Dennis Carvalho para ser Dalva de Oliveira na microssérie de Maria Adelaide Amaral, "Dalva e Herivelto".

- Fiz as duas personagens ao mesmo tempo e foi uma loucura - lembra ela: - Fiquei muito emocionada com a Dalva. Na época, tudo o que dizia respeito a ela me deixava à flor da pele, nem conseguia conversar sobre o trabalho. Eu me entreguei, parei de fazer exercícios, engordei seis quilos, senti que envelheci fisicamente. Foi algo, sei lá, sobrenatural.

Em janeiro de 2010, a minissérie chegou ao fim e ela se recolheu. No mesmo ano, quando Rogério Gomes a convidou para "Morde & assopra", Adriana achou que era uma boa hora de voltar às novelas:

- Eu estava pronta e com saudades. Novela não é moleza, cansa muito, o ator precisa estar preparado. Por isto, fiz apenas dez folhetins em 22 anos de profissão.

Esta disponibilidade para um trabalho, diz, inclui uma entrega física também. No caso de "Dalva e Herivelto", significou engordar e "envelhecer". Agora, Adriana está abaixo do seu peso, malhando muito, entre musculação e corrida.

- Cuido bastante da alimentação e exercício me faz bem - explica, enquanto belisca um pão de queijo no café do Parque Lage, no Jardim Botânico, onde a entrevista aconteceu: - A Júlia, por ser paleontóloga, precisa parecer lépida em cena e mostrar desenvoltura ao saltar nas escavações.

Se Júlia salta, Adriana "dá cambalhotas". É assim que a atriz se refere a este trânsito entre o humor rasgado e o drama.

- Estes papéis tão diversos me levaram a lugares que eu nem sonhava conhecer - comemora: - É como dar cambalhotas.

Os "lugares" a que ela se refere não são concretos, mas o fato é que o trabalho também a transportou, objetivamente, para longe mesmo. Por causa de "Morde & assopra", a atriz conheceu, e adorou, o Japão. No primeiro capítulo, sua personagem encontrará o crânio de um réptil marinho no Monte Fuji: para concluir uma tese, Júlia precisa fazer um achado científico importante. As cenas foram gravadas in loco, em dezembro do ano passado.

- Foi uma viagem sensacional, e Vladimir ainda me acompanhou - vibra: - Vimos as cerejeiras em flor, é algo incrível de que nunca vou me esquecer.

O café acaba, e a atriz, que apareceu para a entrevista com um vestido "estilo paleontóloga", ajuda a ajeitar o cenário no momento da foto. Ela faz a linha despachada. "Sou prática", resume. Este espírito ajuda na hora de administrar o trabalho de horários incertos e a família grande.

- Tenho um esquemaço familiar - conta: - Meus pais moram perto e meu pai é pediatra, olha que sorte. Além disso, as pessoas que trabalham na nossa casa estão com a gente há anos. E somos uma família muito unida, me considero uma mãe apaixonada, do tipo que fica dizendo que os filhos são gênios. E entre as crianças a harmonia é total. Não tem essa de meio-irmão. Todo mundo é irmão inteiro.

Antes de se casar com Vladimir, eles ficaram noivos por um ano (estão juntos há sete). E ela engravidou na lua de mel:

- Gosto de tudo certinho.

O equilíbrio e a serenidade que Adriana transmite não chega a ser novidade. Mas é uma conquista em que ela foi auxiliada pela psicanálise que não larga "de jeito nenhum". Foi o que a ajudou a retomar o prumo durante a novela "Renascer", em 1993. Bombardeada por críticas, ela sofreu. Só voltou a trabalhar dois anos depois, na minissérie "Decadência". A atriz se diz em paz com o episódio.

- Eu tinha 23 anos, estava fazendo um trabalho lindo, dirigida pelo Luiz Fernando Carvalho, mas virei tema de piadas quase diárias de um jornal - relembra, sem fugir do assunto: - Eu sou uma pessoa séria, aquilo me chateou muito. Foi muito difícil, fiquei descrente da minha capacidade. Olhando para trás, penso: como pode uma pessoa se sentir tão desiludida aos 23 anos, com a carreira começando? Eu me recuperei. Hoje teria distanciamento e sabedoria suficientes para dar uma resposta.

A "moça séria" revela ainda que não consegue ter nada inacabado na vida.

- Eu me formei em inglês e cursei Comunicação até o fim - conta: - Além disso, fiz balé clássico muitos anos, ensaiava horas e horas todos os dias. Não é obstinação com a perfeição, é uma espécie de paixão também por fazer tudo direito.

Este caminho pelo lado "direitinho" da vida trouxe, ela garante, muitas recompensas:

- Claro que faço reflexões sobre envelhecer ( ela tem 41 anos que não aparenta), às vezes penso como vai ser o futuro, e tenho um medo de chuva e trovoada além do aceitável. Mas sou deslumbrada com a minha vida. Tenho filhos que são um sonho, um marido que é uma loucura, e acho meu trabalho o melhor do mundo. Nunca imaginei que a vida fosse me proporcionar tantas alegrias. E aqui estou eu.

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