Na história de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a moça em questão é uma ex-participante de reality show, empenhadíssima em conseguir um bom partido e permanecer sob os holofotes. Só pela rápida cena rodada na Lagoa, já dá para perceber que talento Natalie tem de sobra quando o objetivo é chamar atenção.
- Mais do que um marido, ela quer manter a fama e, por isso, prioriza a carreira - adianta Deborah, durante um intervalo nas gravações.
No set improvisado ao ar livre, quem comanda a equipe é a diretora Flávia Lacerda.
- Galera, vamos armar aí, vamos gravar - pede ela, sem perder a calma, aos 80 figurantes que compõem as cenas programadas para aquele dia: - Debinha, o plano começa com você - avisa Flávia, orientando Deborah.
No roteiro, Natalie e seu amigo e fiel escudeiro, Roni, vivido por Leonardo Miggiorin, estão dando uma volta quando se deparam com o designer André, papel de Lázaro Ramos, que vem a ser um dos alvos da personagem. Nessa hora, vale tudo para chamar a atenção do bonitão: para alcançar o rapaz, que passa correndo, Natalie monta no patinete e simula um acidente na frente de André.
- Se eu consegui, você consegue, Debinha. Assim que começar a andar, dê um gritinho - incentiva Flávia, também atenta aos movimentos da câmera.
Em cima do "veículo", a atriz dá a partida.
- Tô me sentindo muito incrível de ter conseguido - festeja Deborah.
Mas essa ficou valendo como ensaio.
- Foi longo demais. O grito é curtinho, fica entre o susto e a excitação - explica Flávia.
O clima é de descontração na gravação, mas sem perder a disciplina. Deborah e Miggiorin repassam o diálogo com a diretora e, a seu pedido, repetem o mesmo take quatro vezes. A essa altura, disfarçar o calor é uma missão quase impossível.
- Alguma toalhinha aí, pessoal? O bicho está pegando - pede Miggiorin, que é atendido pela produção e trata logo de enxugar o peito e a testa.
Mas o ator não se importa com a alta temperatura nem com a repetição de cena. Prefere ver o lado bom de estar ali: é a primeira vez que trabalha numa novela de Gilberto Braga e que contracena com Deborah, por quem ele se desmancha em elogios:
- Estou deslumbrado por poder atuar ao lado dela. Deborah é minha musa, me dá aula. Sabe tudo, dos textos às marcações da câmera.
Na história, Roni é homossexual e vai carregar bordões engraçados do tipo "Você está tuda!".
- Ele não é enrustido, tem afetação. Tenho que jogar com essas referências - conta Miggiorin, que foi conversar com promoters para pegar as gírias divertidas do personagem: - Mas é complicado fazer essa linguagem de comédia, porque pode ficar banal. Na trama, Roni tem um senso crítico mais apurado que o da amiga e tenta abrir os olhos dela.
Assim como seu parceiro, Deborah não perde a empolgação. Seguindo a cena, anda, corre, abaixa, se esconde atrás do pedalinho, volta. Tudo no maior pique.
- Meu cabelo até murchou - diverte-se ela: - As gravações em externas realmente são mais cansativas, exigem mais da gente. Mas são primordiais para imprimir realidade à história.
Reservada há dois anos para o elenco de "Insensato coração", a atriz afirma que sua volta aos folhetins aconteceu do jeito que ela queria: num papel leve e engraçado.
- Fazer comédia em novela é um privilégio porque é uma obra longa, dá para testar muitas coisas. É ótimo poder brincar de fazer graça. E atuar com Leo, pela primeira vez, e com Lázaro, pela milésima, é engraçadíssimo - diz.
Embora seja fã assumida de realities como "Big Brother Brasil", Deborah afirma não ter buscado inspiração em nenhum participante que tenha passado pelas dez edições da casa.
- Isso não me ajudou porque eu nunca segui a vida dos ex-BBBs após o programa. Gilberto e eu fomos criando, construindo a personagem. Observei pessoas que se acham mais famosas do que são, que falam de um jeito diferente. Acho que o resultado vai ficar muito divertido, o público vai gostar - aposta ela.
Enquanto a dupla de atores literalmente sua a camisa na ciclovia, Lázaro Ramos espera confortavelmente dentro de um ônibus-camarim com ar-condicionado. Com fones no ouvido e um livro nas mãos, ele aguarda sua vez de entrar em cena.
- Fui convidado para fazer o André em uma reunião há um ano e me empolguei na hora. O bacana de ter sido chamado com tanta antecedência foi que eu pude me programar. Não marquei compromisso algum - conta ele.
Em sua terceira novela, Ramos revela estar realizando um desejo antigo de trabalhar com a dupla de autores e o diretor Dennis Carvalho.
- Os textos do Gilberto são ótimos, sou seu grande admirador. Não é à toa que você vê a reprise de "Vale tudo" e constata como a novela ainda é atual. As discussões travadas são ótimas - elogia o ator.
Ramos aproveita para explicar seu personagem, que, à primeira vista, pode ser encarado por muitos como um garanhão:
- Quando o compus, parti de outro princípio. Ele é um cara rico e famoso e acha que isso lhe basta. Acha que, mesmo sozinho, está muito bem e não quer nenhuma relação duradoura.
Depois de uma hora de espera, o ator é finalmente convocado pela equipe de produção. Sua função é aparentemente simples: passar correndo em frente à dupla de amigos Natalie e Roni. E, como na história André é um morador da Lagoa, seu intérprete já está ficando craque em rodar cenas do tipo. Na primeira tomada, ele passa tão rápido que não escapa das gozações dos colegas.
- Caprichou, hein! - brinca Deborah: - Treinou bastante, gostei de ver - continua ela.
Ramos entra no clima e não perde a pose:
- Meu ritmo de corrida é esse - devolve o ator, tirando onda com a equipe.
Protegida do sol com chapéu e óculos escuros, a diretora não se contenta em ficar dentro da "cabana" improvisada no local, de onde pode acompanhar a sequência. Por inúmeras vezes Flávia vai até os atores para orientá-los. E sempre na maior delicadeza:
- Lazinho, vem correndo mais de trás. Recua.
Para as cenas de close no ator, ela pede mudança na posição das câmeras e começa tudo novamente. Segundo Flávia, isso faz parte do esforço exigido em gravação fora dos estúdios.
- A maior dificuldade é ter que definir com antecedência o que vai ser feito. Na hora de gravar, muitas vezes o tempo não é o mesmo, a luz é diferente do que você viu... - explica ela, que prefere comandar cenas carregadas no humor: - Difícil mesmo é fazer as dramáticas, em que não se pode ter graça nenhuma.
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