domingo, 26 de dezembro de 2010

Sem perder o bom humor, elenco de 'Insensato coração' grava debaixo de sol forte no Rio


Sentada num patinete elétrico, Deborah Secco parte em disparada pela ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul carioca. Quem está por perto, aproveitando aquele início de tarde ensolarada na cidade, dá uma paradinha para espiar a atriz, que passa acelerada, soltando uns gritinhos. Não se trata de um momento de lazer de Deborah, mas sim de trabalho. Vestindo top e shortinho - que deixam à mostra a barriga "tanquinho" e braços e pernas musculosos -, ela grava na pele de Natalie Lamour, sua nova personagem na próxima novela das 21h da TV Globo, "Insensato coração", que estreia no dia 17 de janeiro.

Na história de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a moça em questão é uma ex-participante de reality show, empenhadíssima em conseguir um bom partido e permanecer sob os holofotes. Só pela rápida cena rodada na Lagoa, já dá para perceber que talento Natalie tem de sobra quando o objetivo é chamar atenção.

- Mais do que um marido, ela quer manter a fama e, por isso, prioriza a carreira - adianta Deborah, durante um intervalo nas gravações.

No set improvisado ao ar livre, quem comanda a equipe é a diretora Flávia Lacerda.

- Galera, vamos armar aí, vamos gravar - pede ela, sem perder a calma, aos 80 figurantes que compõem as cenas programadas para aquele dia: - Debinha, o plano começa com você - avisa Flávia, orientando Deborah.

No roteiro, Natalie e seu amigo e fiel escudeiro, Roni, vivido por Leonardo Miggiorin, estão dando uma volta quando se deparam com o designer André, papel de Lázaro Ramos, que vem a ser um dos alvos da personagem. Nessa hora, vale tudo para chamar a atenção do bonitão: para alcançar o rapaz, que passa correndo, Natalie monta no patinete e simula um acidente na frente de André.

- Se eu consegui, você consegue, Debinha. Assim que começar a andar, dê um gritinho - incentiva Flávia, também atenta aos movimentos da câmera.

Em cima do "veículo", a atriz dá a partida.

- me sentindo muito incrível de ter conseguido - festeja Deborah.

Mas essa ficou valendo como ensaio.

- Foi longo demais. O grito é curtinho, fica entre o susto e a excitação - explica Flávia.

O clima é de descontração na gravação, mas sem perder a disciplina. Deborah e Miggiorin repassam o diálogo com a diretora e, a seu pedido, repetem o mesmo take quatro vezes. A essa altura, disfarçar o calor é uma missão quase impossível.

- Alguma toalhinha aí, pessoal? O bicho está pegando - pede Miggiorin, que é atendido pela produção e trata logo de enxugar o peito e a testa.

Mas o ator não se importa com a alta temperatura nem com a repetição de cena. Prefere ver o lado bom de estar ali: é a primeira vez que trabalha numa novela de Gilberto Braga e que contracena com Deborah, por quem ele se desmancha em elogios:

- Estou deslumbrado por poder atuar ao lado dela. Deborah é minha musa, me dá aula. Sabe tudo, dos textos às marcações da câmera.

Na história, Roni é homossexual e vai carregar bordões engraçados do tipo "Você está tuda!".

- Ele não é enrustido, tem afetação. Tenho que jogar com essas referências - conta Miggiorin, que foi conversar com promoters para pegar as gírias divertidas do personagem: - Mas é complicado fazer essa linguagem de comédia, porque pode ficar banal. Na trama, Roni tem um senso crítico mais apurado que o da amiga e tenta abrir os olhos dela.

Assim como seu parceiro, Deborah não perde a empolgação. Seguindo a cena, anda, corre, abaixa, se esconde atrás do pedalinho, volta. Tudo no maior pique.

- Meu cabelo até murchou - diverte-se ela: - As gravações em externas realmente são mais cansativas, exigem mais da gente. Mas são primordiais para imprimir realidade à história.

Reservada há dois anos para o elenco de "Insensato coração", a atriz afirma que sua volta aos folhetins aconteceu do jeito que ela queria: num papel leve e engraçado.

- Fazer comédia em novela é um privilégio porque é uma obra longa, dá para testar muitas coisas. É ótimo poder brincar de fazer graça. E atuar com Leo, pela primeira vez, e com Lázaro, pela milésima, é engraçadíssimo - diz.

Embora seja fã assumida de realities como "Big Brother Brasil", Deborah afirma não ter buscado inspiração em nenhum participante que tenha passado pelas dez edições da casa.

- Isso não me ajudou porque eu nunca segui a vida dos ex-BBBs após o programa. Gilberto e eu fomos criando, construindo a personagem. Observei pessoas que se acham mais famosas do que são, que falam de um jeito diferente. Acho que o resultado vai ficar muito divertido, o público vai gostar - aposta ela.

Enquanto a dupla de atores literalmente sua a camisa na ciclovia, Lázaro Ramos espera confortavelmente dentro de um ônibus-camarim com ar-condicionado. Com fones no ouvido e um livro nas mãos, ele aguarda sua vez de entrar em cena.

- Fui convidado para fazer o André em uma reunião há um ano e me empolguei na hora. O bacana de ter sido chamado com tanta antecedência foi que eu pude me programar. Não marquei compromisso algum - conta ele.

Em sua terceira novela, Ramos revela estar realizando um desejo antigo de trabalhar com a dupla de autores e o diretor Dennis Carvalho.

- Os textos do Gilberto são ótimos, sou seu grande admirador. Não é à toa que você vê a reprise de "Vale tudo" e constata como a novela ainda é atual. As discussões travadas são ótimas - elogia o ator.

Ramos aproveita para explicar seu personagem, que, à primeira vista, pode ser encarado por muitos como um garanhão:

- Quando o compus, parti de outro princípio. Ele é um cara rico e famoso e acha que isso lhe basta. Acha que, mesmo sozinho, está muito bem e não quer nenhuma relação duradoura.

Depois de uma hora de espera, o ator é finalmente convocado pela equipe de produção. Sua função é aparentemente simples: passar correndo em frente à dupla de amigos Natalie e Roni. E, como na história André é um morador da Lagoa, seu intérprete já está ficando craque em rodar cenas do tipo. Na primeira tomada, ele passa tão rápido que não escapa das gozações dos colegas.

- Caprichou, hein! - brinca Deborah: - Treinou bastante, gostei de ver - continua ela.

Ramos entra no clima e não perde a pose:

- Meu ritmo de corrida é esse - devolve o ator, tirando onda com a equipe.

Protegida do sol com chapéu e óculos escuros, a diretora não se contenta em ficar dentro da "cabana" improvisada no local, de onde pode acompanhar a sequência. Por inúmeras vezes Flávia vai até os atores para orientá-los. E sempre na maior delicadeza:

- Lazinho, vem correndo mais de trás. Recua.

Para as cenas de close no ator, ela pede mudança na posição das câmeras e começa tudo novamente. Segundo Flávia, isso faz parte do esforço exigido em gravação fora dos estúdios.

- A maior dificuldade é ter que definir com antecedência o que vai ser feito. Na hora de gravar, muitas vezes o tempo não é o mesmo, a luz é diferente do que você viu... - explica ela, que prefere comandar cenas carregadas no humor: - Difícil mesmo é fazer as dramáticas, em que não se pode ter graça nenhuma.

Nenhum comentário: