quinta-feira, 7 de abril de 2011

CRÍTICA:‘Tapas e beijos’ é excelente

 


Antes de mais nada é preciso lembrar que um programa com Andrea Beltrão e Fernanda Torres nos principais papéis já leva uma grande vantagem. Dito isso, falta ressalvar: “Tapas & beijos” não se limita ao talento das duas e vai ainda muito mais além. Tem roteiro excelente de Cláudio Paiva, direção competente de Maurício Farias e um elenco de primeira, sem exceções.

A trama se inspira naqueles pequenos tratos jamais verbalizados que mantêm de pé toda e qualquer relação afetiva, de amizade ou de trabalho. Há o caso da amante (Fátima/Fernanda Torres) que tolera o fato de seu amor ser casado (Armane/Vladimir Brichta); o do patrão, Djalma (Otávio Muller, muito bem no papel), que, por pura conveniência, se deixa dominar pelas subordinadas. E até um atrapalhado Santo Antônio (o ótimo Kiko Mascarenhas). Por sua vez, Sueli (Andrea) sustenta uma ligação indefinida com o ex-marido, Jurandir (Érico Brás). São inflexões que não chegam a atravessar a linha da corrupção. Servem para que todos convivam dentro da  harmonia possível. Portanto, “Tapas & beijos” também acerta driblando as lições de moral (coisa de que “A grande família”, por exemplo, não pretende escapar).

Desse ecossistema em que os espécimes sobrevivem à custa de alguma malandragem, Cláudio extraiu um humor requintado, delicioso. Houve uma escorregada para a chanchada — na cena da prisão de Jurandir —, mas com rápida recuperação. Maurício Farias conhece bem os tempos da comédia e domina a pegada do drama. Acertou do começo ao fim.

O cenário é uma combinação da Copacabana literal — quando mostra os arredores das ruas Inhangá e Paula Freitas e prédios muito conhecidos — e também do bairro estilizado, recomposto no Projac. O acerto da cenografia combina com a história de Cláudio, que mistura emoções e fantasias numa sopa bem dosada e capaz de tocar a todos os espectadores.

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