sábado, 12 de setembro de 2009
Caminho das Índias: um balanço positivo de uma trama que vai deixar saudade
por Mauro Alencar
Por sua extensão e detalhamento, Gloria Perez apresentou em Caminho das Índias o que podemos chamar de “uma verdadeira alegoria urbana” da Índia e do Brasil (precisamente o Rio de Janeiro), criando um elo de ligação com o público em diferentes camadas sociais. Assim pude constatar em diversos setores e ambientes da sociedade: padarias, clube, comentários de amigos, parentes, palestras que proferi ou escutei em cursos de comunicação Brasil afora etc. Só para exemplificar de maneira mais concreta, estive recentemente em Vitória e não foram poucas as vezes que deparei-me com a expressão “are baba”!
E caso queira verificar isto da maneira não menos surpreendente, é só percorrer a Rua 25 de Março, meca do comércio popular em São Paulo, e ver a influência da “moda Maya” e do “estilo indiano” nas lojas e vendedores ambulantes espalhados pela rua.
Saldo de um passeio pela Índia
Da Índia consigo extrair, em especial, o núcleo de Opash Ananda (Tony Ramos) e todas as relações familiares ali contidas. Com destaque para a eterna rivalidade mais ou menos explícita entre nora e sogra (a Indhira de Eliane Giardini, a Laksmi de Laura Cardoso e, posteriormente, com a Surya de Cleo Pires). Há ainda a sábia criatura Shankar (Lima Duarte); os momentos de tensão e cumplicidade entre Maya (Juliana Paes) e sua mãe, Kochi (Nívea Maria) e os embates entre Opash e Shankar.
O triângulo amoroso mostrou, mais uma vez, o fascínio que é a produção de uma obra em aberto como a telenovela. Desnecessário dizer - mas é sempre bom deixar registrado - que Raj (Rodrigo Lombardi) conquistou com justa causa o coração de Maya e o inconsciente coletivo da plateia. Coisas da vida e do faz-de-conta. Como em qualquer criação que envolva outros elementos humanos além do contador de histórias.
A trama passada no Brasil
Do Rio de Janeiro destaco com louvor o conflito exato entre os irmãos Raul e Ramiro (Humberto Martins), ladeados pelo inspirado patriarca Cadore (Elias Gleizer). Personagens e atores em total sintonia. E, claro, o amor que reuniu Cadore e dona Cidinha (Eva Todor).
Mas como não realçar a presença de Melissa (Christiane Torloni) e seus impulsos estéticos-consumistas, além da catarse coletiva que provocou ao delimitar seu espaço físico e emocional eliminando a presença antipática de Yvone?
Bastante funcional também para os tempos de hoje, o trio pai-mãe-filho: César (Antonio Calloni) – Ilana (Ana Beatriz Nogueira) e Zeca (Duda Nagle). Destaco também a conflituada personagem interpretada por Tania Khalill: Duda.
Vilanias de Yvone
A trama que envolve Yvone (Letícia Sabatella) e Raul (Alexandre Borges) fisgou a atenção do público. A vilã é dissimulada, com charme patológico. E ele é o homem bobão deixando-se seduzir por uma pilantra, trocando um casamento sólido (com Sílvia, Débora Bloch) por alguns instantes de prazer que culminaram numa interessante (ao estilo de alguns clássicos folhetins franceses e brasileiros) e atualizada troca de identidade.
Valores sociais na trama
Ainda, no Rio, as informações e angústias psiquiátricas apresentadas na clínica do Dr. Castanho (Stênio Garcia) com seu grupo de portadores de deficientes mentais e muito bem enfeixadas pelo jovem Tarso (Bruno Gagliasso), sendo este personagem esquizofrênico o grande destaque dos chamados “valores sociais” da telenovela.
Humor e drama em Norminha
O maior respiro da trama (mas não sem uma pitada de drama) veio, sem dúvida alguma, por parte da personagem Norminha (Dira Paes) que, contraditoriamente ao seu nome, não tinha norma alguma. Personificou, ampliou, institucionalizou a música de Dorgival Dantas interpretada por Calcinha Preta: “Você não vale nada, mas eu gosto de você!”.
Caminho das Índias na obra de Gloria Perez
A novelista prossegue com um estilo próprio, marcante e sintonizado com a nossa indústria cultural deste início de século. Mescla costumes e tradições de outros povos num intercâmbio perfeito com o Brasil. Convergências e divergências que unem e afastam os diversos comportamentos humanos. Neste sentido, a abertura e trilha sonora souberam captar a essência da trama com direção artística de Marcos Schechtman.
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