“Vou gritar”, dispara Lauro César Muniz, 73, autor de telenovelas como “Salvador da Pátria” e “Roda de Fogo”.
Ele começa nesta semana a convidar colegas como Aguinaldo Silva, Silvio de Abreu, Gilberto Braga e Manoel Carlos para uma campanha contra o que considera uma ameaça à sobrevivência das novelas no Brasil.
“O processo industrial está acabando com a qualidade e a solução é cortar pela metade o número de capítulos.”
Lauro diz que as novelas foram tomadas por um “fordismo”, em referência ao norte-americano Henry Ford (1863-1947), criador de técnicas para a produção em série.
“Hoje um autor de novela não senta no computador para criar histórias. Ele virou um distribuidor de tarefas.”
Até meados dos anos 90, quase todos os autores davam conta de, sozinhos, escrever uma novela inteira. Depois, exaustos, passaram a chefiar grupos de roteiristas que redigem os capítulos.
Na avaliação de Lauro, isso aconteceu em razão da mudança no ritmo das novelas. “Antes, as histórias podiam ser mais lentas. Hoje, com a pressão da disputa por audiência, acredita-se que o público exige muita ação, cenas fortes que chamem a atenção a todo o momento.”
Segundo ele, é inviável segurar uma história assim sozinho por oito meses, tempo em que os mais de 200 capítulos da novela vão ao ar.
A ampliação do número de colaboradores, avalia Lauro, fez com que “a autoria se perdesse”. “Isso acontece também na direção. Grande parte das cenas fica com assistentes do diretor. Perde-se, assim, a unidade estética.”
MENOS É MAIS
Para Lauro, as novelas devem passar a ter 120 capítulos. “Seriam mais concentradas na história central, com menos tramas paralelas, um elenco mais enxuto, o que reduziria também os custos.”
Lauro crê que isso facilitaria o lançamento de novos autores. “É muito mais viável para uma emissora arriscar um novo nome em uma novela de quatro, cinco meses do que em uma de oito.”
Para o elenco, defende, também seria uma vantagem. “Atores como Wagner Moura, Rodrigo Santoro e Alice Braga, que não fazem novela porque têm de abandonar projetos no cinema e no teatro por muito tempo, podem topar tramas curtas.”
Nos anos 90, Lauro e outros defenderam a ideia na Globo, mas a mudança do processo de produção era recente, e a emissora preferiu deixar tudo como estava.
No segundo semestre de 2011, contudo, a Globo se aproximará dessa experiência com um remake de “O Astro”, sucesso de Janete Clair.
Enquanto o original da trama dos anos 70, famosa pelo mistério “Quem matou Salomão Hayala?”, teve 186 capítulos, o remake deve ter 80.
DESABAFO
Contratado da Record desde 2006, após 33 anos na Globo, Lauro prepara uma novela para 2012, no atual padrão de 200 e poucos capítulos.
“Isso já está fechado assim e a campanha, se for bem aceita, não deverá mudar as coisas tão cedo. Eu, com 73 anos, nem sei se vou chegar a participar disso, mas quero lançar a discussão.”
Sua insatisfação com a qualidade teledramatúrgica fica clara no livro “Lauro César Muniz Solta o Verbo”, recém-lançado pelo Coleção Aplauso (leia ao lado).
Em depoimento biográfico ao escritor Hersch Basbaum, o autor revela bastidores de seu trabalho na Globo e desabafa sobre aspectos de sua vida pessoal, como a morte do filho Ricardo, ao 28 anos, soropositivo desde os 23.
Foi um raro momento em que o ex-militante do Partido Comunista e crítico feroz das religiões questionou seu ateísmo. Conta que sabia que todo mundo que entra em uma igreja desconhecida tem direito a três pedidos.
“Fazia três pedidos iguais: salve o meu filho!”.
LAURO CÉSAR MUNIZ SOLTA O VERBO
AUTOR Hersch W. Basbaum
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 15 (354 págs.)
AUTOR Hersch W. Basbaum
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 15 (354 págs.)
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