Adriano Garib e Carolina Dieckmann em “Salve Jorge” (Foto: TV Globo)
As críticas pipocam por todos os lados. “Salve Jorge é lenta e confusa” “Já vimos essa novela antes!” “São muitos personagens, não consigo decorar os nomes!” “Lá vem as dancinhas e os bordões estrangeiros!”.
A novela de Glória Perez, depois de um mês no ar, não vem despertando grande audiência: é a pior média para o horário até o capítulo 24 – 30,63 pontos no Ibope da Grande São Paulo, a praça que realmente interessa ao mercado publicitário (cada ponto equivale a 60 mil domicílios). Sabe-se que no resto do Brasil a novela tem números melhores.
Compare com as tramas anteriores no horário – audiência média na Grande São Paulo até o capítulo 24:
Salve Jorge: 30,63
Avenida Brasil (2012): 35,5
Fina Estampa (2011-2012): 38,25
Insensato Coração (2011): 31,75
Passione (2010): 31,21
Viver a Vida (2009-2010): 36,5
Caminho das Índias (2009): 34,54
A Favorita (2008-2009): 35,25
Mesmo com 30,63 pontos, a novela das nove da Globo ainda é a maior audiência da TV aberta brasileira – há mais de 40 anos é assim -, líder isolada quando comparada à audiência da segunda emissora concorrente no horário.
Em um mês no ar, Salve Jorge pegou dois feriadões (2 e 15 de Novembro). E estreou em pleno Horário de Verão, o que seria um fator a ser considerado, já que o Horário de Verão costuma ser o fantasma das novelas das seis e sete horas (é um dos motivos para o baixo desempenho de Lado a Lado e Guerra dos Sexos). Mas, historicamente, o Horário de Verão afeta pouco a novela das nove horas. Há um ano, Fina Estampa – com dois meses no ar – registrava números bem mais expressivos.
Não desmerecendo o trabalho de pesquisa da autora, Salve Jorge nos dá a impressão de que a Turquia não passa de uma mistura de Marrocos com a Índia. Claro que cada autor tem seu estilo. Assim como os atores com quem gosta de trabalhar (as chamadas “panelinhas”) e os personagens e tramas que já usou várias vezes. Mas, uma coisa é estilo, outra é repetição deslavada. Salve Jorge parece um arremedo de O Clone + América + Caminho das Índias.
Nanda Costa chegou a ser citada em algum momento, mas a culpa não é da atriz, que, aliás, está ótima como Morena. Nanda defende com garra e talento a típica heroína de Glória Perez: a moça passional e batalhadora, contestadora, que luta pelos seus objetivos, mesmo abrindo mão de seu amor (vide Clara, Dara, Jade, Sol e Maya). O elenco é ótimo, grandioso em talento e – principalmente – em quantidade – o que, às vezes, confunde o público, perdido entre tantas tramas paralelas e nomes. Bom para os atores: todos empregados.
O diretor de núcleo é Marcos Schechtmann, que já acompanhou Glória em América e Caminho das Índias, entre outros trabalhos. Os dois têm afinidade mas, acostumados a trabalhar sempre com a mesma equipe técnica e artística, acabam deixando as suas novelas com a mesma cara, esteticamente falando. Somados a isso: elenco repetido, com atores que já estiveram com Gloria ou Marcos várias vezes, personagens com perfis psicológicos já vistos antes, exotismo de um país longínquo, diferenças culturais apresentadas didaticamente, figurinos folclóricos, dancinhas a todo o momento por qualquer motivo, palavras estrangeiras ditas com a tradução em português na sequência… Já vimos essa novela antes. E mais de uma vez.
Salve Jorge x Avenida Brasil
Na quinta-feira (feriado de 15 de Novembro), durante a exibição do capítulo de Salve Jorge, os tuiteiros subiram a hashtag #EssaHoraEmAvenidaBrasil (*) para bater de frente com a trama de Glória Perez, como uma forma de criticar a autora. Sim, existe o luto pela novela anterior. Mas, muito mais do que isso, existe o estranhamento causado pela novela substituta de Avenida Brasil.
A trama de João Emanuel Carneiro acostumou mal o seu público. Direção inovadora com tomadas e fotografia cinematográficas, atores soltando cacos (texto fora do roteiro), ritmo acelerado, ganchos impactantes, sempre envolvendo o núcleo central, elenco enxuto, linguagem de seriado, etc. A novela se tornou um grande sucesso e repercutiu como nunca nas redes sociais (principalmente no Twitter e Facebook).
Aí entra Salve Jorge, com a narrativa e linha dramatúrgica tradicional de Glória Perez, com o seu universo já conhecido, testado, aprovado e reprovado em trabalhos anteriores, e a direção linear e certinha de Marcos Schechtmann. O realismo e o sabor de novidade de Avenida Brasil foram substituídos pela mais conservadora das novelas, com uma trama central que beira o dramalhão mexicano. Realmente é uma diferença gritante. Como se diz no Twitter: tem que ver isso aí!
(*) a palavra-chave #EssaHoraEmAvenidaBrasil ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Merchandising social
Toda novela quando estreia leva um tempo para cativar a audiência. Caminho das Índias, o folhetim anterior de Glória Perez, também demorou a engrenar e terminou com ótimo Ibope – até ganhou prêmio no exterior.
Torcemos para que Salve Jorge decole. Glória Perez deveria focar no que sua novela tem de melhor: a trama do tráfico de mulheres, que é o grande diferencial de Salve Jorge em relação às suas outras novelas. O tema é interessante, chama a atenção, é atual, serve como alerta, denuncia, levanta a discussão. Merchandising social é uma marca registrada das novelas de Glória Perez, o diferencial que fez da autora uma das mais talentosas e competentes de nossa televisão.
Fonte: Nilson Xavier / UOL
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