sábado, 1 de dezembro de 2012

(fdp) – 1×08/09: O Videoteipe é Burro e o Ponto é uma Besta/Cartão Amarelo


“I de Imbecil, P de Piranha, C de Cuzão e E de Exibido!”

1×08: O Videoteipe é Burro e o Ponto é uma Besta
O oitavo episódio de (fdp) começa com um retrato de uma sociedade talvez ainda distante, onde todos viraríamos infalíveis ciborgues que, auxiliados pelas tecnologias que virão, não cometeríamos mais erros. Tudo isso pelo fato de nosso árbitro favorito não ter visto uma “bola na mão” em uma partida que apitara. O que abre uma nova discussão: até que ponto cabe a utilização de avanços tecnológicos, como o ponto eletrônico, para auxiliar no trabalho do trio de arbitragem?

Para Juarez, tudo que ajude o juiz é melhor. “Não deu pra ver o lance só com os dois olhos que tenho”, explicou a Neri Nelson. O que não convenceu muito o apresentador, que tratou de providenciar um exame de vista no meio do programa – provocando a ira do protagonista e o fazendo soltar a frase que abre esta review. É interessante notar, nesta cena, o aparente complô contra Juarez: os convidados não hesitaram em discordar do moço. Vale transcrever a profundidade do depoimento de Cidão (“ex-atacante e galã”): “jogador tem que jogar e árbitro tem que apitar”, o que quer que isso signifique.

Em seguida, Juarez (com sua autoconfiança reticente) é escalado para apitar mais um jogo pela Libertadores, na Bolívia – dessa vez ao lado de Carvalhosa e Serjão (que voltou da suspensão). “Coincidentemente”, Vitória também viajou, atuando como comentarista do jogo. Dada a situação, foi triste perceber que o roteiro decidiu seguir pelo caminho mais óbvio e menos verossímil: Juarez usou um ponto eletrônico, aproveitando a visão privilegiada de Vitória, que o guiaria na arbitragem. O plano corria bem, até Vitória ser cantada por Cidão (“coincidentemente” também comentarista), a fazendo esquecer o resto do mundo. Juarez, claro, ouviu tudo e, no meio da partida, resolveu também parar de trabalhar e deixar de marcar um impedimento.

Analisemos as incongruências: como nenhum dos outros comentaristas percebeu (ou questionou) Vitória o tempo todo falando num celular? Como nenhum repórter ao nível do campo viu o ponto eletrônico no ouvido de Juarez? Como ninguém contestou a “visão de raio X” do juiz, que conseguia ver faltas que ocorreram quando estava de costas para o lance? Vitória é assim tão irracional a ponto de se derreter como uma adolescente e cair na conversa mole de um marmanjo antes da partida terminar? Juarez é tão incompetente assim, a ponto de não mais conseguir apitar a partida sozinho (o inverso do que todos os outros episódios mostravam)? Ainda sobre Juarez, é razoável pensar que um árbitro experiente, que já cometeu um erro em um jogo anterior, se deixasse levar pelo ciúme a ponto de desmoronar no meio da partida?

Tudo foi muito inoportuno nesta viagem à Bolívia. Para piorar, ao fim do jogo Vitória já estava devidamente abraçada com Cidão e já tinha esquecido Juarez – como se o tivesse conhecido ontem. Oi? Desde quando os relacionamentos em (fdp) são tão rasos? Realmente espero que a participação de Vitória na série não tenha acabado tão avulsamente. Além disso, a produção economizou ainda mais na ambientação da partida: praticamente só se mostrou perna de jogador correndo e closes de Juarez. Nada de planos abertos, nada de visão aérea – mais genérico impossível. No fim das contas, desta sequência só se salvou a merecida suspensão de Juarez pela próxima rodada, enredo que tem bastante potencial, se bem utilizado.

Ao contrário da partida, foi interessante o aprofundamento da relação entre Guzman e Dona Rosali. No começo da série, eu pensava que o casal iria servir apenas de alívio cômico, sem muito plots dedicados. Contudo, foi divertido e leve o pedido de casamento e as cenas posteriores, sem nenhum drama desnecessário. Afinal, “casamento é divertido, por causa da festa” e, mais importante, “tem que aproveitar enquanto ele está vivo”.

Por fim, Manu vai atrás de emprego e acaba cuidando de aquários de lagostas em restaurantes pela cidade (sério que precisa de um biólogo pra isso?). Até agora, nada demais por aí e nada que mereça destaque. Em geral e apesar das minhas críticas, o episódio divertiu, com suas habituais boas piadas e personagens bocas sujas. Entretanto, a pobreza do enredo se sobressaiu, prejudicando os bons momentos do episódio, principalmente quando comparado com os excelentes capítulos anteriores.


1×09: Cartão Amarelo
Se eu reclamei das incongruências do episódio passado, pelo menos tinha a esperança que, na semana seguinte, Juarez fosse correr atrás da sua careira e lidar com sua suspensão. Mas não: o episódio começou e terminou e o protagonista continua suspenso. Pior, ele parece não estar se importando muito com isso e com o futuro da carreira. Sinto cheiro de filler? Com certeza.

Como sabemos, a vida de Juarez não está lá das melhores: dispensado pela capa da Playboy, suspenso no trabalho, apaixonado (ainda) pela ex e café-com-leite no videogame. Ai você faz o quê? Para usar o clichê, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Mas não Juarez. Juarez, o juiz da Fifa, que sonhava em apitar a Copa do Mundo, pelo visto agora prefere continuar na lama. Senão vejamos: o árbitro tenta contatar Camponero para tentar convencê-lo a reconsiderar sua suspensão. Liga, vai na casa, vai no escritório. Não acha o chefe. Aí Carvalhosa consegue marcar o almoço que pode salvar sua carreira. Neste cenário, uma pessoa sensata chegaria adiantado no restaurante com as orelhas abaixadas. Mas Juarez prefere ficar de birrinha com Rui e apitar Escola da Luz x Escola Técnica pela copa interescolar. Coerência, cadê?

Tudo bem que ele ia ver o filho jogar, mas não justifica frente ao momento delicado da carreira do juiz. Parece que desistiu de ganhar dinheiro (nem que seja pra pagar advogado!) e de ser o melhor árbitro do planeta, o que não condiz com a personalidade construída para o personagem durante os sete primeiros episódios. Para piorar, o draminha que se seguiu pelo fato de o pai marcar impedimento em um gol do filho foi totalmente dispensável. Primeiro por sua curta duração (o menino já tinha se arrependido dois minutos depois), segundo por sua inutilidade (em nada mudou a relação entre pai e filho). Claro, tudo era para justifica a “inspirada” frase de “efeito” no final: “o certo é sempre fazer a coisa certa”.

Mais uma vez, destaco o casal coadjuvante Guzman e Dona Rosali, que tiveram bastante tempo em tela (percebe-se aí a natureza de “encher linguiça” do episódio). A noiva passou o tempo todo com seu vestido (alguém mais se lembrou de Friends?), sem a menor cerimônia com o fato de o noivo vê-la antes do casamento. Na verdade, os dois não brincaram em serviço e aproveitaram para adiantar a noite de núpcias. Tudo muito leve, tudo muito divertido, assim como no episódio passado.

Fora isso, teve um seguimento sem muita importância do programa do Neri Nelson, apenas repetindo que Juarez está suspenso, e uma entrevista com Vitória em um programa de tevê, com o único intuito de mostrar a moça com pouca roupa (tudo bem, essa parte foi boa). Senti falta das piadas boas, infelizmente. Para o próximo capítulo, ficou o futuro profissional indefinido de Juarez e a esperança de que a suspensão renda algo interessante. Exatamente como no capítulo passado. Só digo uma coisa: reage Juarez, já está perdendo a graça.

Observações:
- Como de costume, os episódios contaram com várias participações especiais. Chris Couto voltou como Gina no oitavo episódio – para não fazer absolutamente nada. O nono episódio, por sua vez, trouxe três figuras relacionadas ao futebol: Neymar, como o garoto que faz a manutenção do filtro da casa de Camponero; Juca Kfouri, como revisteiro (e leitor de Playboys) e Rincón, como Rincón mesmo (participando do programa de Neri Nelson).



- Alguém entendeu qual a história do russo milionário que foi repetida nos últimos dois episódios? Ele era dono do time do Paraguai, é isso? Imagino que possa ter alguma relevância futura, mas ainda estou meio perdido. De qualquer forma, a menção misteriosa rendeu uma pérola de Carvalhosa: “Prejuízo é que nem supositório, até quando é pequenininho dói”.
- Nos dois episódios, o parco condicionamento físico do protagonista foi bastante enfatizado. Desse jeito está difícil chegar à Copa do Mundo, hein? Bora dar uma corridinha no parque, não faz mal a ninguém!

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