Não sei se Glória Perez já usou o argumento de que existe uma campanha negativa da mídia contra Salve Jorge.
Todo dia me deparo com alguma notícia espinafrando a novela ou, ao
menos, chamando a atenção para a sua repercussão negativa, a baixa
audiência, o número volumoso de atores no elenco, as repetições de
temas, etc. Não vou me estender nos exemplos senão vai parecer que eu
mesmo estou desqualificando a obra. O fato é que as audiências de todas
as novelas no ar estão abaixo do esperado (com exceção de Carrossel, do SBT, que tem seu público cativo).
Continuo achando que Carminha é a grande vilã nessa má vontade toda do público com a trama de Glória. Avenida Brasil abriu um precedente: o público está cansado de mais do mesmo. É claro que Avenida também tinha mais do mesmo,
como deve ter todo folhetim (a base da telenovela). Mas houve ali uma
quebra de paradigma – pelo menos no formato (estética cinematográfica,
linguagem de seriado com ganchos surpreendentes, elenco enxuto, etc.)…
Também não vou me estender em enaltecer Avenida para não resvalar a novela da Glória na comparação com a trama de João Emanuel Carneiro.
O período de luto de Avenida Brasil se estende na medida em que a novela continua colhendo louros de seu sucesso. Na noite de terça-feira (27/11), Avenida
foi a principal vencedora do Prêmio Extra de Televisão. Ganhou seis das
nove categorias em que concorreu: Novela, Atriz (Adriana Esteves), Ator
Coadjuvante (José de Abreu), Atriz Coadjuvante (Ísis Valverde),
Revelação (Cacau Protásio) e Revelação Infantil (Mel Maia) – Marcelo
Serrado, de Fina Estampa, levou o prêmio de Melhor Ator.
Os internautas comemoram na Internet. Assim como comemoram os capítulos de Avenida Brasil transmitidos
atualmente pelo canal SIC, em Portugal, que podem ser vistos aqui pela
Internet. E justamente na hora que está passando Salve Jorge. Que azar, hein!
Assim como Avenida Brasil, outras duas novelas, do passado também causaram frisson e viraram coqueluche: Roque Santeiro (1985-1986) e Vale Tudo (1988-1989). A novela que teve a difícil tarefa de substituir Roque Santeiro foi o remake de Selva de Pedra
(com Fernanda Torres, Tony Ramos e Christiane Torloni como
protagonistas). Apesar do sucesso da novela original em 1972 (aquela dos
100% de audiência), o remake não agradou a maioria. A trama
custou para pegar – se é que de fato “pegou” – e foi muito criticada na
época. A história se repete mais ou menos assim agora, em 2012…
Em contrapartida, o caso de Vale Tudo
foi diferente. Depois do enorme sucesso da novela, de todos saberem que
foi Leila quem matou Odete Roitman, a trama substituta – O Salvador da Pátria – não fez feio. Aqui cabem algumas comparações. Selva de Pedra
tinha a estrutura do mais clássico dos folhetins. Era uma história
relativamente nova e conhecida em 1986 – havia sido reprisada em 1975,
onze anos antes. Ou seja, foi escolhido um melodrama sem novidade para
substituir um fenômeno de repercussão. Selva de Pedra, naquele momento, revelou-se uma escolha equivocada para entrar no lugar de Roque Santeiro.
Diferentemente, a trama que substituiu o fenômeno Vale Tudo – O Salvador da Pátria
– trazia o mais apurado texto de Lauro César Muniz, na história do
boia-fria matuto (Sassá Mutema de Lima Duarte) que serviu de bode
expiatório para as falcatruas dos poderosos de uma cidadezinha. Apesar
de ser uma releitura de um antigo conto de Lauro César (O Crime do Zé Bigorna, exibido nos anos 1970 como Caso Especial), O Salvador da Pátria
apresentou uma história e tanto que cativou o público de cara, logo nos
primeiros meses. Não por acaso, a novela registrou altos índices de
audiência na época (apesar dos problemas que teve da metade para o
final).
Roque Santeiro-Selva de Pedra e Vale Tudo-O Salvador da Pátria são exemplos para se refletir no atual caso Avenida Brasil-Salve Jorge.
Acredito que o público deixa o luto pela novela anterior mais cedo
quando o casamento seguinte traz novidade. E convenhamos que Salve Jorge carece de novidade. A única está no núcleo do tráfico de mulheres.
Como se não bastasse Salve Jorge ser uma novela tradicional demais para ocupar a vaga de Avenida Brasil,
o sucesso prolongado da trama de João Emanuel Carneiro ecoa e
intensifica a sensação do quanto as duas novelas são diferentes. Para
melhor e para pior.
Fonte: Nilson Xavier / UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário