O sonho de qualquer juiz.
Spoilers Abaixo:
1×06: Efeitos Colaterais
O sexto episódio de (fdp) continua
a mostrar as durezas da vida de um árbitro de futebol. Dessa vez, a
necessidade de manter uma boa forma física – o que, com o avanço da
idade, vai ficando cada vez mais difícil. E nosso protagonista, como
traduziu bem o sonho do início do episódio, estava correndo tão rápido
quanto um velhinho de andador. Consequentemente, foi reprovado em um
teste físico em que (supreendentemente) Carvalhosa fez o segundo melhor
tempo e “até a bandeirinha” Vitória conseguiu passar (palavras do
educador físico).
Com o resultado, Juarez é colocado na
geladeira, devendo melhorar seu condicionamento físico enquanto aguarda
um novo teste. Mas o momento não poderia ser pior: como repete
religiosamente desde o primeiro episódio, o juiz está “curto de grana”. E
por “três mil reais, sem nota”, até ser bandeirinha de joguinho de
várzea da firma ele topa – afinal, dinheiro é dinheiro. Por sua (falta
de) importância, o jogo da semana acabou reduzido a alguns poucos
minutos, sem o habitual comentarista “engraçadalho”.
Curiosamente, este foi o jogo que me
pareceu mais tecnicamente bem feito: estava a cara de um jogo de firma,
informal e despreocupado. Como não se precisava encher um estádio, pela
primeira vez a torcida foi verossímil – afinal, partida de firma só tem
poucos gatos pingados na plateia mesmo. É uma pena concluir que a
produção de (fdp), até agora, só se mostrou competente em reproduzir uma partida de futebol amador.
Chega o novo teste físico e, desta vez, o
árbitro é aprovado, correndo mais que o Usain Bolt. Tal recuperação
milagrosa se deve ao grande segredo que o amigão Carvalhosa revelou: um
remédio à base de efedrina (segundo a Wikipédia, um estimulante que aumenta a performance atlética, mas com uma pá de efeitos colaterais), aproveitando-se de não haver antidoping para árbitros. Carvalhosa só esqueceu-se de comentar que o remedinho causa perda temporária da libido (mas é um fdp mesmo!), o que fez Vitória apenas se divertir com as luzes do motel – por que nem “falando com ele” Juarez acordou.
Fora isso, me parece que o episódio da
semana foi contratado pelo Ministério da Saúde para evitar a
automedicação: além do juiz, Dona Rosali toma uma pilulazinha pra dormir
(sem receita médica) e o menino Vinny andou tomando remédio escondido
na escola (para ficar doidão na aula de educação física). Este foi pego e
terá que frequentar uma psicóloga; aquela teve a caixa do remédio
despedaçada e jogada no lixo pelo preocupado filho. Tudo muito avulso,
tudo sem muita graça.
Graças a Deus, essa semana Manu deu uma
maneirada na chatice – vai ver perder o emprego tem esse efeito. Nada se
falou sobre a guarda do filho e a proibição do pai em vê-lo, e,
felizmente, nada do advogado insuportável. Também faltou, assim como no
episódio passado, palavrão e politicamente incorreto. Todo mundo tem
estado muito polido, muito urbano, muito amável. Cadê aquele Carvalhosa,
aquele Guzman e aquela Dona Rosali bocões dos primeiros episódios?
Espero que voltem a abrir a boca suja. E agora que Juarez irá morar com
Carvalhosa (para o alívio de Dona Rosali), há um imenso potencial para
que tudo volte ao normal.
Após um episódio morno como o anterior, (fdp)
voltou com tudo em sua sétima semana. E não foi só pelas mulheres de
biquíni desfilando pela tela, juro (claro que isso ajudou…). Mas o
episódio marca o retorno de tudo que fez a série me prender lá nos
primeiros episódios: os diálogos afiados, a camaradagem malandra entre
Carvalhosa e Juarez, os merchans de Neri Nelson, os comentaristas com um toque de canalhice, as piadas sem pudor…
O episódio começa com uma discussão entre Vitória e Juarez, pelo fato deste querer apitar a partida beneficente entre Gostosas X Poderosas, promovida pela Playboy.
Juarez, claro, já se imaginou em uma cena de filme pornô, com direito a
orgia numa cama redonda de motel. Como era de se esperar, Vitória logo
fechou a cara, e tentou convencer o namorado a não apitar o suposto jogo
de Várzea, pois seria ruim para a reputação do árbitro. Ô Vitória, pra
quem apitou jogo de firma no episódio passado e não se preocupou com
isso, um jogo de modelos vai pará-lo? Além de faturar um trocado para
pagar as dívidas, tenho certeza que é o sonho da carreira de qualquer
juiz.
Daí segue uma das melhores cenas do
episódio (certamente a com o melhor diálogo, transcrito ao final),
quando Manu abre a porta do quarto de Juarez e o surpreende bem no
momento que ele “faz um teste” sobre a presença ou não de silicone nos
peitos da namorada. É importante notar que Manu voltou com seu azedume
habitual, mas dessa vez foi muito bem utilizado na situação – a garota
estava possuída, insinuando prostituição da bandeirinha a torto e a
direito: “paga a moça e veste uma roupa”, disse. Depois disso,
Carvalhosa, afiadíssimo, não se segurou e passou o episódio todo
cantando Vitória, sem a menor cerimônia.
Mas vamos à partida: jogada de mestre essa da Prodigo Films
em juntar mulheres seminuas e futebol no mesmo episódio. Não tem como
um marmanjo que se preze não assistir a esse episódio (e a todas as
reprises nos canais HBO que se seguirem) – quesito marketing:
nota dez. Foi tudo muito bom, desde o enquadramento estratégico da
câmera na retaguarda das garotas, até os “trocadalhos do carilho” dos
comentaristas (“agasalhar a jogadora” foi o mais comum). O resultado do
jogo? Quem se importa!
Devo elogiar também a atuação dos
envolvidos: a felicidade estampada no rosto de Eucir de Souza (Juarez)
ao apitar a partida foi bem genuína – talvez o ator estivesse realmente
feliz na cena. Do mesmo modo, também convenceu a cara fechada de
Fernanda Franceschetto (Vitória). Paulo Tiefenthaler (Carvalhosa), como
já comentei, estava muito bom com sua cara de cachorro pidão. Comparando
com os primeiros episódios, o elenco principal mostra uma ótima
evolução, sem sombra de dúvida.
Além de embelezar o episódio, o enredo
do jogo de modelos não me pareceu forçado, encaixando bem com a proposta
da série. Ademais, foi interessante notar que a relação entre Vitória e
Juarez está se aprofundando – os dois se mostraram bastante mordidos
pelo ciúme nas situações advindas da partida. Vitória ficou com medo de
que Juarez se “apaixonasse por um zagueiro”. Juarez, por sua vez, se
roeu por dentro com o convite que a bandeirinha recebera para posar nua
para a revista que promoveu o jogo.
Aparentemente, o namoro dos dois tinha
tudo para evoluir, não fosse a insinuação de que o relacionamento entre
Manu e o protagonista ainda não acabou. Não sei se gosto dessa
reaproximação: se ela for apenas para fazer draminha dispensável (como o
beijo/tapa seguido por uma proposta de DR entre o ex-casal), o roteiro
poderia se livrar disso. Afinal, há alguns episódios Manu não mostra
outro sentimento a não ser rancor pelo ex-marido. Este também já parecia
bem confortável na sua vida de solteiro. Prevejo futuras cenas de mimimi de Manu e, se eles tiverem uma recaída, uma discussão também dispensável adicionando Rui e Vitória ao caldo.
Falando de Manu, começaram as repercussões do seu recente desemprego: ela já bateu à porta do ex para
pedir dinheiro. Com isso, a série relembrou a história do jogo
proibido, esquecida no episódio passado, como comentei acima. Talvez um
furo do roteiro, vez que no sexto episódio Juarez viu o filho sem
problemas e nesse, para fazer o mesmo, o pai teve que chantagear a
progenitora. Mas isso é o de menos.
O que importa é o episódio ótimo que,
além do que já denotei, ainda arranjou tempo para mostrar uma maior
aproximação entre pai e filho. Em uma cena leve e oportuna, os dois
começaram a dialogar sobre seus respectivos relacionamentos, de maneira
bem saudável. Juntando tudo isso com a edição e direção mais acertadas
(sem exagerar, por exemplo, nos dramas familiares), (fdp)
divertiu e embelezou meia hora de minha vida, de forma que estou
contando os minutos para ver o desdobramento do que se iniciou neste
capítulo. E é assim que se reconhece uma série boa.
- Juarez vai morar na casa de Carvalhosa
pagando condomínio, água, luz e faxineira. Fez bom negócio, hein seu
Carvalhosa? Mas é um fanfarrão mesmo!
- Desirée da Luz, a diretora da Playboy,
foi (muito bem) interpretada pela atriz e modelo Isadora Ribeiro, que
já foi “Garota do Fantástico” e posou para a revista em 1988 e 1991.
Entretanto, não posso dizer o mesmo de outros participantes do elenco de
apoio. Alguns dos escalados foram de dar dó. Embora com pouco tempo de
tela, eles reforçam a sensação de amadorismo que a produção passa às
vezes. Acho que eu – que nunca fiz isso na vida – ficaria mais
confortável e natural na frente das câmeras que o ex-chefe de Manu e que
a assessora de imprensa da drogaria.
- Neri Nelson sempre é muito bom, mas o
pior é se dar conta que a caricatura é bem próxima da realidade de
alguns programas esportivos. Dessa vez, fomos interrompidos pelos faróis
SóLux, pelos aquecedores Calorex e pelo Conhaque Rocha. O apresentador
também revelou que não suporta Juarez – será que essa história se
desenrolará futuramente?
- Ótima a cena de Carvalhosa implorando
de joelhos para participar do jogo das modelos, mesmo de graça. “Amigo,
jogo de vinte e duas gostosas de biquíni, eu apitava até pagando!”
- Juarez, sobre a mãe: “E ela não tá tomando remédio sem receita, né?”
- Guzman: “Claro que non, por que aqui na Finlândia, farmácia só vende remédio com receita.”
—–
- Juarez: “Tchau, mãe!”
- Dona Rosali: “Vê se não fica 25 anos na casa do Carvalhosa!”
—–
- Vitória: “Que que cê acha de saírem dizendo por aí que cê tá apitando jogo de várzea?”
- Juarez: “Não é várzea!”
- Vitória: “Óbvio que é várzea, a diferença é que você pode se apaixonar por um zagueiro…”
- Juarez: “Tá bom, me dá o telefone, que vou ligar e dizer que não quero trabalho.”
- Vitória: “Ah, ficou chateado foi? Que eu tô te afastando daquelas vacas de tetas de silicone? Juarez, elas só vão te usar pra subir na carreira.”
- Juarez: “Não é isso que cê tá fazendo?”
- Vitória: “É, mas pelo menos meu peito é natural.”
—–
- Manu: “Fui despedida.”
- Vitória: “Bem feito!”
- Manu, para Juarez: “Vim pedir pra você pagar a escola até eu me acertar. Isso se sobrar, né… Se bem que ela deve ser baratinha, menos de cem.”
- Vitória: “Baratinha é a puta que te pariu!”
—–
- Carvalhosa: “É cemzinho mesmo que cê cobra?
- Vitória: “Não é hora de fazer piada, Carvalhosa!”
- Carvalhosa: “Eu pagava quinhentos!”
—–
- Carvalhosa, após dar uma checada no corpo de Vitória: “Vou botar o pôster na minha sala! Não, no quarto! Não, no banheiro!”
- Carvalhosa, para Juarez: “Tá comendo a capa da Playboy, hein? Filho da puta!”
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