sábado, 1 de dezembro de 2012

(fdp) – 1×12/13: Mala Branca e Mala Preta/Afinal, a Final [Season Finale]


Ora crucificado, ora enjaulado. Definitivamente, ser juiz de futebol não é fácil.

Spoilers Abaixo:
A metáfora que abre o décimo segundo episódio de (fdp) traduz bem a grande pressão que sofrem os árbitros de futebol, sempre assombrados pelo temor de serem crucificados – seja pelos espectadores dos jogos, seja pelo chefe, seja pelos times, seja pela família. Por sua vez, a season finale iniciou-se trazendo à tona a importância da ética profissional, que impede o juiz de enjaular-se em interesses terceiros. Pressão e ética, temas recorrentes desde o início da série, voltaram muito bem dosados nestes dois últimos episódios, fechando de maneira deveras competente esta primeira temporada.

Na verdade, os dois episódios podem ser tratados como apenas um, vez que o segundo continua imediatamente de onde parou o primeiro. Se em “Mala Branca e Mala Preta” não vimos a já tradicional “partida da semana”, “Afinal, a Final” concentrou-se exclusivamente nisso. Talvez tudo pudesse ter sido apresentado em apenas um episódio, poupando os espectadores de alguns momentos claramente inseridos para completar “encher linguiça” – mas daqui a pouco falo disso. Antes, os pontos bons.

Finalmente apareceu o russo misterioso dos episódios anteriores – e veio trazendo presentinhos para todo mundo. Camponero, aparentemente, já está acostumado com a situação, aconselhando Juarez a encarar aquilo com muita naturalidade. Aí, é interessante perceber como é elástica a linha entre corrupção e integridade: se inicialmente Juarez via os presentinhos com inquietação, com pouco tempo já aceitava aquilo com certa naturalidade – não vi Juarez reclamando com ninguém quando Manu e Vinny chegaram na Argentina. Era visível a inquietação do protagonista durante a partida, corroído pela dúvida em ser um bom profissional ou em garantir o futuro do filho – ponto para Eucir de Souza, que claramente evoluiu muito desde o primeiro episódio (lembremos que a temporada demorou quatro anos para ser gravada).

Ponto também para o roteiro, que não hesitou em assentar Carvalhosa como o bandeirinha que cedeu às pressões de Zharkov, quando a resposta mais óbvia seria Lúcio (este tardava ao marcar os impedimentos – mas não falhava). O texto também foi muito competente ao colocar uma pulga atrás na orelha do espectador, que naturalmente questionou a integridade de Juarez. Como já levantei, a inquietação do protagonista foi muito bem retratada, tanto que, durante a partida, Juarez teve momentos de fraqueza (ao não punir um “carrinho” com o cartão que merecia para favorecer o Palermo) e de fortaleza (ao não utilizar o apito dourado que ganhara e ao berrar para que Lúcio “não fudesse tudo”, por exemplo).

Importante notar que atuação e texto só funcionaram tão bem por conta do grande esmero que a produção teve com a partida de futebol: ponto de críticas minhas em reviews anteriores, talvez pela primeira vez a peleja em si fora convincente. O estádio realmente parecia lotado para aquele jogo, a reação da torcida não estava plástica e inverossímil, os jogadores realmente pareciam jogar futebol. Até a cena aérea feita em computação gráfica teve dignidade. Criou-se, assim, um clima de tensão bem efetivo em relação ao resultado da partida e à dúvida se Juarez cederia ou não à pressão do dinheiro.

Confesso que, na hora, não consegui me decidir se queria que o Palermo ou se o Asunción ganhasse. Me surpreenderia muito se o time uruguaio tivesse levado a melhor e tal fato abriria inúmeras possibilidades para uma segunda temporada, vez que Juarez teria que recomeçar do zero, sem o apoio de Camponero. Entretanto, os escritores optaram pela decisão aparentemente mais fácil, com o Palermo ganhando a partida. Mas, para a minha felicidade, eles já pensaram alto para a próxima temporada: Juarez já tem indicação para a Copa do Mundo, estando um passo mais próximo de realizar seu sonho. Ainda, a relação com Manu sofreu um novo baque, que também ficou para um próximo ano. É bom ver que a produção não se acovardou em fazer um final fechadinho, apostando na qualidade de seu material e deixando pontas soltas para serem futuramente resolvidas.

Ainda tenho que elogiar o desfecho em si do jogo: quem diria que a final da Libertadores seria decidida por um gol do juiz! Pode isso, Arnaldo? Se lá no começo da temporada, Juarez fez um gol de pênalti em um sonho, dessa vez, para a perplexidade de todo mundo, foi tudo muito real, mesmo que involuntário. O Palermo ganhou com a ajuda de Juarez, sem Juarez ter se entregado completamente ao “lado negro da força”. Foi “sem-querer-querendo”, mas foi (quero ver ele conseguir explicar isso para Manu).

Contudo, como nem tudo são flores, tenho algumas ressalvas. Dona Rosali e Guzman apareceram muito pouco nesses derradeiros episódios e passaram longe de seu potencial. Sem muito destaque, sem muitas piadas e sem muita graça, parece que estavam ali como forma de auto-homenagem à série, que não queria esquecer-se de seus coadjuvantes. Do mesmo modo, Vitória e Serjão também estavam lá apenas para cumprir tabela – até Rui apareceu. E o que dizer do súbito romance entre Gilda e Paiva, os comentaristas mais insossos do mundo; e de Neri Nelson, seus brinquedinhos e a prostituta? Em um último episódio, só um motivo justifica tanto destaque à histórias tão desimportantes: tempo sobrando. No fim das contas, ficou a impressão de que 30 minutos apenas para a partida de futebol era muito – tiveram que colocar cenas de personagens com quem ninguém se importa para completar.

E o grande problema disso é a quebra de ritmo que pôde-se perceber, principalmente na finale. Se o objetivo era alimentar uma tensão sobre aquela partida decisiva, tudo ia por água abaixo quando aparecia Neri Nelson, Gilda e Paiva, que supostamente estariam ali como um alívio cômico – mas o tiro saiu pela culatra. Também na tentativa de alimentar a tensão do espectador, a direção de arte do episódio optou por uma trilha sonora sufocante, que não parava por um momento sequer, chegando a anular o som ambiente da partida de futebol. No final, ficou a impressão de que “tentaram demais” e a trilha sonora ficou meio over – em alguns momentos eu só conseguia prestar atenção na música de ação, de tão alta que estava, ao invés das faltas que os jogadores cometiam. Assim, em minha opinião, teria apreciado melhor os acontecimentos dos dois últimos episódios se condensados em apenas um, sem muita enrolação e com os habituais oito a nove minutos de partida de futebol. Não obstante, entendo que foi uma escolha de roteiro e provavelmente de contrato, que previa os treze episódios.

Obviamente, tais falhas não tiram o mérito dos episódios, que foram muito eficientes em construir uma grande expectativa naquele que os assistiam. E, como já disse, o final apresentado foi bastante satisfatório – e surpreendente em alguns aspectos. Ainda, tudo o que fez (fdp) cair no meu gosto estava lá: as piadas infames (principalmente no penúltimo capítulo), os palavrões, a ironia, o humor inteligente e o texto bem escrito.

No fim das contas, não poderia deixar de parabenizar a iniciativa da HBO Brasil em acreditar no projeto da Prodigo Films, que teve que lidar com mudanças nas leis de incentivo à cultura e com muitas adversidades para produzir a série. Mesmo assim, perseveraram e produziram um conteúdo de alto nível, que não deve nada a nenhuma produção estrangeira. Claro, aqui e ali cometiam alguns tropeços, principalmente nos episódios iniciais, mas tudo foi se acertando. Com esta finale, acredito mais do que nunca em uma segunda temporada, ainda mais considerando a nova lei de quotas de exibição de conteúdo nacional na tevê paga brasileira. É bom notar que a emissora ainda não se pronunciou sobre o assunto, mas olhando para as outras produções nacionais do canal, acredito que uma segunda temporada deve vir, mesmo que seja apenas daqui a dois anos. De qualquer forma, vale muito a pena esperar por (fdp), a série que começou pequena e despretensiosa em meio à enxurrada de séries americanas, mas que, provando sua qualidade, fincou cadeira cativa na minha watchlist – e, certamente, na de muitos sériemaníacos. Por ora, fim de jogo.

Observações:
- Juarez definitivamente provou sua hombridade ao dispensar a “assessora” do Palermo que foi enviada ao seu quarto. Vou te dizer, não é todo dia que você dispensa um avião daqueles…
- Parece que Vinny não herdou os valores de seus pais: para o garoto, não custava nada dar “um penaltizinho” pro Palermo, afinal, “imagina a festa que vai ter depois”!
- Carvalhosa inventou que o número 5 do Asunción o havia xingado. Mas era justamente o jogador que tinha feito cirurgia na garganta. Como ele não sabia disto? Ô Carvalhosa, vamos fazer o serviço direito, rapaz! Tsc, tsc, tsc…
- Pela primeira vez, quem terminou o episódio com o habitual “filho da puta” foi Juarez, em um desabafo que pode ter vários destinatários: Zarkhov, Camponero, Carvalhosa e até Pembo, o jogador do Palermo que chutou a bola que viria a se chocar contra o juiz, antes do gol.

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