Camila Pitanga, como Isabel em “Lado a Lado” (Foto: TV Globo)
Lado a Lado, a novela das seis da Globo, é o atual “biscoito fino” da programação da emissora. Trama de época (se passa no Rio de Janeiro no início do século XX) em uma produção impecável em fotografia, figurinos, cenários e direção de arte, que reproduzem os francesismos tupiniquins no período da Belle Époque. Direção de núcleo do experiente Dennis Carvalho, escrita pela dupla de iniciantes João Ximenes Braga e Cláudia Lage, com supervisão de texto de Gilberto Braga.
De fato, tem muito de Gilberto no folhetim das seis. Recentemente, a novela teve uma virada, com um salto no tempo e o retorno por cima da sofrida mocinha Isabel (Camila Pitanga) – o que remeteu à trama de Dancin´ Days (1978).
A novela ainda mescla o folhetim com fatos reais do Rio das décadas de 1900 e 1910, como o surgimento do samba e do “foot-ball” (sim, com sotaque inglês, como falado na novela), o fim dos cortiços e o processo de favelização do Rio, e as Revoltas da Vacina e da Chibata. Como pano de fundo, a emancipação feminina – o surgimento de uma nova mulher – em contraponto com os preconceitos de uma sociedade tacanha que não evoluiu com os novos tempos da República. É neste contexto que se desenrola a trama das protagonistas vividas por Camila Pitanga e Marjorie Estiano.
Mas, apesar de tantos predicados, Lado a Lado não decola no Ibope. É a novela das seis de menor audiência da história: até o momento amarga uma média de 18 pontos, quando a meta é 25 (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo). Reflexo dos tempos de concorrência com outras mídias – como a Internet e a TV a cabo, mais acessíveis do nunca. E também da vida moderna, que faz com que as pessoas fiquem mais tempo fora de casa depois do trabalho – ou porque não conseguem estar em casa às 18 horas, ou porque o calor e o sol a pino do Horário do Verão são atraentes e convidativos para se prolongar na rua.
No ar há dois meses e meio, a trama começou devagar, mas foi abrindo o seu caminho. O ritmo é bom, de uma novela comum: sem grandes arroubos ou acontecimentos impactantes. O elenco é de primeira e a trama está repleta de personagens interessantes.
Percebe-se, entretanto, uma não uniformidade nos capítulos. Alguns têm sequências excelentes – como os embates entre as arqui-inimigas Isabel e Constância (Patrícia Pillar), que aconteceram na semana que passou. Mas outros deixam a desejar: o capítulo do dia segue sem que nada de interessante aconteça.
Para fisgar o público moderno e levá-lo para frente da telinha às 18h30, é preciso mais do que uma bela história contada no ritmo do início do século passado. Com o solão que tem feito em pleno fim de tarde, parece realmente um desperdício bocejar diante da TV.
Fonte: Nilson Xavier / UOL
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